esquecimento

por id435009.scuczx.xyz

Duas cervejas, por favor. O cheiro de fritura era denso, quase sólido; o ar, amarelado. Ao fundo, atrás de uma mesa de bilhar (ou pebolim, não lembro), um casal velho, fuleiro, dançava sério o forró que tocava baixo o suficiente para justificar o desânimo. Por mais insólito que era aquilo, me pareceu o único elo com a realidade. Tá gelada?, apressei o menino que se alongava em trocar o canal da T.V, peguei os dois copos (não, não estava gelada). Que bosta de lugar, pensei, mas na saída me deparei com aquela cena. Aquelas mãos. Por que fazia isso com as mãos?

Deixou a quinta dose pela metade, seu corpo não permitiu a entrada daqueles últimos mls de álcool. Socou o copo na mesa em uma rapidez inesperada, mas logo rendeu-se à fraqueza dos movimentos. A bebida apagou a morte da sua mulher, aos 23 anos, que homem escroto, sujo e nojento, o olhar era quase de um cego, olhava sem enxergar, perdeu também o emprego de caixa, não tinha mais ninguém (ou ninguém mais o queria ter). A bebida varreu tudo, até mesmo a consciência de que aquelas mãos eram suas, olhou para elas demoradamente, o movimento era lerdo, pensou consigo Nada.

, pensei eu. Tomei as duas antes de entrar na balada.