sem-choro.

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No primeiro dia, ainda algumas horas depois da cerimônia, com o suor frio pelas costas, olhos vítreos e apertados, ela precipitou-se a cozinhar e, devido a evidente inexperiência, cortou a ponta do dedo, olhou o sangue que destacava o robalo dos demais objetos da pia e iniciou-se em histeria: ria com raiva, arranhava a garganta em um riso assustador. Consegue imaginar a cozinha fria, o vermelho no azulejo?

No terceiro dia, reteve a cólera e saiu pela porta da sala de jantar, ao lado da churrasqueira; abriu o portão azul e andou pela noite fechando as mãos com toda força. Morava no interior e havia um grande lago para pesca, onde agora, à beira, com os sapatos quase brancos tocando a graminha molhada, lembrou-se do frio entre as coxas e aliviou as unhas. Não pulou. Enfim voltou à cama. Não houve sangue, só marcas na mão esquerda.

Cadê a tristeza, mãe?, perguntou, ainda criança, à gorda Claudia, mulher de pelancas até as orelhas, que arrumava a mesa puxando cada cadeira com um braço só; que, sem tempo para pergunta besta menina, pousava os olhos grandes e impacientes por sobre os ombros. Por nada, mãe.

No décimo dia foi como sempre. Terminou seu iogurte de ameixas e seguiu até o dentista. Dói? Não. Dói? Não. Dói? Não.